8 de out. de 2009

Metade - Oswaldo Montenegro - reflexão.

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos

Porque metade de mim é o que ouçoMas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste,
que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigoMas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéiaE a outra metade é canção.
E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amorE a outra metade também.

alunos me pediram, via orkut......Bem, a resenha não vou fazer não, tá?

Mas vou dar umas dicas daquilo que é bem visível, aos meus olhos, pois os tempos mudam mas os princípios de Deus não..

Há uma contradição entre amor e medo, e esse medo jamais poderia ser contradição com o amor, porque o verdadeiro amor lança fora todo medo!
Triste alguém deixar morrer tudo em que se acredita! O ideal seria lutar, e não deixar morrer o que se acredita! mas é imprrescindível que a morte do que se acredita ( se foi inevitável...) não tape ouvidos, boca, mente, coração.O amor tudo sofre, tudo crê e espera, então eu acho que ele não ama de verdade essa mulher, porque caso amasse não diria que quer somente ela sendo amada, ...mesmo que distante,... vejo covardia nessa estrofe...
Mas vejo tb liberação de perdão e desejos de felicidade a essa pessoa. ( menos mal.)

O que ele fala não pode ser ouvido como prece, ele não é exemplo para ninguém! O fato de calar muito é covardia, buscar o concenso parece algo difícil demais para ele, estranho!Pessoas assim, não são líderes, não estão no centro, mas ficaram na retaguarda.Ele diz merecer

paz , embora tenha tido vontade de ir embora, e demonstra nas palavras, saudades. confuso o cara, não??

Como o tempo verbal empregado ajuda, Presente do Subjuntivo, demonstra desejo, pois é petição, todas essas coisas podem sem alcançadas, via "misericórdia", mas nunca via "justiça".

Não entendo que o cansaço conduza a lugar de abrigo, uma pausa, até entenderia, não ruptura, não é isso que o faz infeliz, mas o fato de não saber amar, que pode vir a gerar outros relacionamentos tão complicados quanto, com guerras, "frias", mas "guerras"....não sei se mais ou menos sérias!
Nossos problemas geralmente são menores que podemos enxergar, nós é que complicamos e não a platéia. O velho caso de transferir culpa, obrigações.
Perdoar setenta vezes sete, é mandamento, perdoado ele será, pois a amada parece disposta a aceitar sua decisão, mesmo ele não tendo vivenciado um arrependimento verdadeiro. Que ainda tem que acontecer, para que se alcanse "cura" e assim o sentimento de comiseração sempre presente no poema desapareça, não como desapareceu o primeiro envolvimento, mas porque o que precisa ser tratado no "eu" lírico é a raiz, domínio de sua mente, sabendo que os pensamentos são flexas lançadas de todos os lados, cabe a ele discernir, com a ajuda do Espírito Santo, as questões de complexidade, que é ele que precisa aprender simplificar e fugir de todo embaraço, com muita naturalidade e autoridade em Deus.
espero que ajude, paz...Simone Morais.

5 de out. de 2009

Uma aula que estou programando - O operário em construção - vinicius de Moraes

Vou fazer um monólogo desse texto, e depois explicá-lo, para poder pedir teatro musicais, monólogos, dramas, tragicomédias , sátiras e etc.....


Vinicius de Moraes
Composição: Vinicius de Moraes

Era ele que erguia casasOnde antes só havia chão.Como um pássaro sem asasEle subia com as casasQue lhe brotavam da mão.Mas tudo desconheciaDe sua grande missão:Não sabia, por exemploQue a casa de um homem é um temploUm templo sem religiãoComo tampouco sabiaQue a casa que ele faziaSendo a sua liberdadeEra a sua escravidão.
De fato, como podiaUm operário em construçãoCompreender por que um tijoloValia mais do que um pão?Tijolos ele empilhavaCom pá, cimento e esquadriaQuanto ao pão, ele o comia...Mas fosse comer tijolo!E assim o operário iaCom suor e com cimentoErguendo uma casa aquiAdiante um apartamentoAlém uma igreja, à frenteUm quartel e uma prisão:Prisão de que sofreriaNão fosse, eventualmenteUm operário em construção.
Mas ele desconheciaEsse fato extraordinário:Que o operário faz a coisaE a coisa faz o operário.De forma que, certo diaÀ mesa, ao cortar o pãoO operário foi tomadoDe uma súbita emoçãoAo constatar assombradoQue tudo naquela mesa– Garrafa, prato, facão – Era ele quem os fazia Ele, um humilde operário, Um operário em construção. Olhou em torno: gamela Banco, enxerga, caldeirão Vidro, parede, janela Casa, cidade, nação! Tudo, tudo o que existia Era ele quem o fazia Ele, um humilde operário Um operário que sabia Exercer a profissão.
Ah, homens de pensamento Não sabereis nunca o quanto Aquele humilde operário Soube naquele momento! Naquela casa vazia Que ele mesmo levantara Um mundo novo nascia De que sequer suspeitava. O operário emocionado Olhou sua própria mão Sua rude mão de operário De operário em construção E olhando bem para ela Teve um segundo a impressão De que não havia no mundo Coisa que fosse mais bela.
Foi dentro da compreensãoDesse instante solitárioQue, tal sua construçãoCresceu também o operário.Cresceu em alto e profundoEm largo e no coraçãoE como tudo que cresceEle não cresceu em vãoPois além do que sabia– Exercer a profissão –O operário adquiriuUma nova dimensão:A dimensão da poesia.
E um fato novo se viuQue a todos admirava:O que o operário diziaOutro operário escutava.
E foi assim que o operárioDo edifício em construçãoQue sempre dizia simComeçou a dizer não.E aprendeu a notar coisasA que não dava atenção:
Notou que sua marmitaEra o prato do patrãoQue sua cerveja pretaEra o uísque do patrãoQue seu macacão de zuarteEra o terno do patrãoQue o casebre onde moravaEra a mansão do patrãoQue seus dois pés andarilhosEram as rodas do patrãoQue a dureza do seu diaEra a noite do patrãoQue sua imensa fadigaEra amiga do patrão.
E o operário disse: Não!E o operário fez-se forteNa sua resolução.
Como era de se esperarAs bocas da delaçãoComeçaram a dizer coisasAos ouvidos do patrão.Mas o patrão não queriaNenhuma preocupação– "Convençam-no" do contrário –Disse ele sobre o operárioE ao dizer isso sorria.
Dia seguinte, o operárioAo sair da construçãoViu-se súbito cercadoDos homens da delaçãoE sofreu, por destinadoSua primeira agressão.Teve seu rosto cuspidoTeve seu braço quebradoMas quando foi perguntadoO operário disse: Não!
Em vão sofrera o operárioSua primeira agressãoMuitas outras se seguiramMuitas outras seguirão.Porém, por imprescindívelAo edifício em construçãoSeu trabalho prosseguiaE todo o seu sofrimentoMisturava-se ao cimentoDa construção que crescia.
Sentindo que a violênciaNão dobraria o operárioUm dia tentou o patrãoDobrá-lo de modo vário.De sorte que o foi levandoAo alto da construçãoE num momento de tempoMostrou-lhe toda a regiãoE apontando-a ao operárioFez-lhe esta declaração:– Dar-te-ei todo esse poderE a sua satisfaçãoPorque a mim me foi entregueE dou-o a quem bem quiser.Dou-te tempo de lazerDou-te tempo de mulher.Portanto, tudo o que vêsSerá teu se me adoraresE, ainda mais, se abandonaresO que te faz dizer não.
Disse, e fitou o operárioQue olhava e que refletiaMas o que via o operárioO patrão nunca veria.O operário via as casasE dentro das estruturasVia coisas, objetosProdutos, manufaturas.Via tudo o que faziaO lucro do seu patrãoE em cada coisa que viaMisteriosamente haviaA marca de sua mão.E o operário disse: Não!
– Loucura! – gritou o patrãoNão vês o que te dou eu?– Mentira! – disse o operárioNão podes dar-me o que é meu.
E um grande silêncio fez-seDentro do seu coraçãoUm silêncio de martíriosUm silêncio de prisão.Um silêncio povoadoDe pedidos de perdãoUm silêncio apavoradoCom o medo em solidão.
Um silêncio de torturasE gritos de maldiçãoUm silêncio de fraturasA se arrastarem no chão.E o operário ouviu a vozDe todos os seus irmãosOs seus irmãos que morreramPor outros que viverão.Uma esperança sinceraCresceu no seu coraçãoE dentro da tarde mansaAgigantou-se a razãoDe um homem pobre e esquecidoRazão porém que fizeraEm operário construídoO operário em construção.


Comentando...
Quantas coisas são construídas para alicerçar nossas estruturas? No mundo do antigo operário, eram apenas objetos inominados, que nos obrigam, conforme as leis do mercado a aceitar. mas o homem perde seu anonimato e vê as construções que ajudou a levantar.
Narra em versos a alienação verificada na multidão que somente empilha tijolos.

De repente tomado de súbita emoção, constata que era ele quem construía tudo, tudo o que existia...Cidade, casa nação. Percebe as forças das mãos rudes e a grandeza do operário. sentimos libertar a percepção quando o operário começa a notar as coisas. As diferenças de sua vida, frente a do patrão. comparando pequenos detalhes. sua consciência política e social amadurece e ele se faz forte em dizer: - Não!
Surge então as delações dos companheiros...O patrão, sem dar importãncia a ele, solicita aos delatores que o "convença do contrário". Surgem, então as primeiras agressões... cospem em seu rosto, quebram seu braço, e ainda assim o operário diz: - Não!!!

O patrão verificando que toda violência sofrida e imposta não convencia o operário, tenta dobrá-lo com a proposta do poder, tempo de lazer, tempo de mulheres... Mas ele diz: -Não!!! é que o operário vê coisas que o patrão não vê...pois o patrão está limitado a visão do lucro. o homem com a amplitude da percepção que adquiriu, sente a enorme percepção dos que compreendem além das aparências, a responsabilidade da vida dos que padecem sem visão.
constrói-se dentro de um novo perfil de homem enganjado no mundo e sua participação na história.

o poeta encerra sua grande edificação poética, ciente que formou outras mentes pensantes...vimos a coragem do operario de falar a outros, formando essas menttes, e de se negar a propostas corruptas. como sociólogo que passou a ser, e idealista, segue com a perspectiva de construir um trabalho que pode contagiar outros. aporta, emocionado no papel que adquiriu de mundo. Somos todos operários em construção que devemos construir o dia-a-dia com tijolos significativos e transformar o dia a dia num abrigo seguro para a vida.
Pensar em uma existência vazia vai de encontro a valorizar a construção de uma carreira ( seja ela qual for, desde que bem exercida) perceber o nosso papel na sociedade, e pensarmos também na edificação coletiva, quando podemos visualizar do ALTO DA CONSTRUÇÃO um mundo em desenvolvimento.
Você consegue contemplar isso??
Ofereço, ao meu mestre da Faculdade, Eraldo Maia, que sempre declamou esse poema, em todas as turmas de letras, da FERLAGOS.

Vinicius de Moraes, nasceu em 1913 e faleceu em 1980, um homem que construiua si mesmo e ousou edificar o operário, num poema tão verdadeiro e revelador. Formado em Direito, ingressou na sociologia em versos e músicas, cantou e trouxe de volta os sonetos, soneto da Separação, do Amor Total e da Fidelidade. trouxe poemas infantis como Arca de Noé e denunciou a bomba atômica através da Rosa de Hiroxima.

Deixa eu ver se me lembro desse monólogo, abraço aos de LETRAS, turma de 1993 - FERLAGOS.
paz.